Pular para o conteúdo principal

OMS desiste de classificar velhice como doença...

A entrada do item “Relacionado ao envelhecimento” (XT9T) na atualização da Classificação Internacional de Doenças (CID-11) foi retirada de vez pela direção da Organização Mundial da Saúde (OMS) . 

A conquista foi fruto de uma grande pressão e movimentação da sociedade civil nacional e internacional, que luta contra a patologização da vida e por maior inclusão das pessoas idosas na sociedade. O anúncio foi feito pela coordenação da iniciativa ‘Década do Envelhecimento Saudável’ a Alexandre Kalache, presidente do ILC-Brasil e coordenador do Grupo Temático Envelhecimento e Saúde Coletiva/Abrasco. ‘Um dia histórico de conquista da sociedade civil brasileira que beneficiará as pessoas idosas de todo o mundo’, comemora o abrasquiano.

Desde 2015, uma articulação da indústria farmacêutica com pesquisadores repaginou a defesa da velhice como doença. O processo seguiu no âmbito da OMS e, em 2018, a velhice como doença foi incluída inicialmente como código de extensão. Em maio de 2019 a classificação foi aprovada na 72ª Assembleia Mundial de Saúde. A previsão de entrada em vigor era 1º de janeiro de 2022. 

Contudo, inciativas como a Década do Envelhecimento Saudável, lançada pelas Nações Unidas para o período 2021-2030, e o “Relatório Global sobre Preconceito de Idade”, lançado pela própria OMS no início de 2021, aprofundaram a contradição sobre a classificação.

Indignados com um retrocesso de impacto negativo em vários segmentos, da saúde à economia, profissionais ligados à geriatria, gerontologia, à saúde, à comunicação, à política e a outros setores sociais iniciaram o movimento ‘Velhice Não É Doença’. A ação extrapolou fronteiras e ganhou a adesão de profissionais e instituições de diversos países sobretudo da América Latina e da Europa, tendo a Associação Internacional de Gerontologia e Geriatria (IAGG) se manifestado, assim como através das respectivas associações a nível nacional. Após meses de ampla articulação e forte presença nas redes sociais, finalmente a direção da OMS comprometeu-se publicamente com a retirada.

“Essa decisão agora coloca um freio no idadismo que iria atingir níveis sem precedentes. De repente, ficaríamos todos com o rótulo de velhos. Se é velho, deixa morrer. Não vai tratar, não vai fazer diagnóstico”, diz Alexandre Kalache.

O movimento #velhicenãoédoença continuará estimulando o debate público sobre as implicações do termo que substituirá a palavra ‘velhice’ na CID-11, bem como prosseguirá na defesa dos direitos à vida e às práticas cidadãs em prol do bem-estar das pessoas idosas – como proposto pela Convenção Pan Americana de Direitos das Pessoas Idosas ainda não endossado pelo governo brasileiro.

Em  Por:Bruno C. Dias 

Fonte: ttps://www.abrasco.org.br/site/noticias/saude-da-populacao/classificacao-velhice-retirada-oms/63967/

Comentário do Blog: Durante a campanha que envolveu a CID 11, a turma do "oquerolanageronto" entrevistou Boris Casoy e reproduzimos aqui:



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Chapéu Violeta - Mário Quintana

Aos 3 anos: Ela olha pra si mesma e vê uma rainha. Aos 8 anos: Ela olha para si e vê Cinderela. Aos 15 anos: Ela olha e vê uma freira horrorosa. Aos 20 anos: Ela olha e se vê muito gorda, muito magra, muito alta, muito baixa, muito liso, muito encaracolado, decide sair mas, vai sofrendo. Aos 30 anos: Ela olha pra si mesma e vê muito gorda, muito magra, muito alta, muitobaixa, muito liso muito encaracolado, mas decide que agora não tem tempo pra consertar então vai sair assim mesmo. Aos 40 anos: Ela se olha e se vê muito gorda, muito magra, muito alta, muito baixa, muito liso, muito encaracolado, mas diz: pelo menos eu sou uma boa pessoa e sai mesmo assim. Aos 50 anos: Ela olha pra si mesma e se vê como é. Sai e vai pra onde ela bem entender. Aos 60 anos: Ela se olha e lembra de todas as pessoas que não podem mais se olhar no espelho. Sai de casa e conquista o mundo. Aos 70 anos: Ela olha para si e vê sabedoria, risos, habilidades, sai para o mundo e aproveita a vida. Aos 80 an...

O Dente-de-Leão e o Viva a Velhice

  A belíssima lenda do  dente-de leão e seus significados Segundo uma lenda irlandesa, o dente-de-leão é a morada das fadas, uma vez que elas eram livres para se movimentarem nos prados. Quando a Terra era habitada por gnomos, elfos e fadas, essas criaturas viviam livremente na natureza. A chegada do homem os forçou a se refugiar na floresta. Mas   as fadas   tinham roupas muito chamativas para conseguirem se camuflar em seus arredores. Por esta razão, elas foram forçadas a se tornarem dentes-de-leão. Comentário do Blog: A beleza  do dente-de-leão está na sua simplicidade. No convívio perene com a natureza, no quase mistério sutil e mágico da sua multiplicação. Por isso e por muito mais  é que elegi o dente-de-leão  como símbolo ou marca do Viva a Velhice. Imagem  Ervanária Palmeira   O dente-de-leão é uma planta perene, típica dos climas temperados, que espontaneamente cresce praticamente em todo o lugar: na beira de estrada, à bei...

‘Quem anda no trilho é trem de ferro, sou água que corre entre pedras’ – Manoel de Barros

  Dirigido pelo cineasta vencedor do Oscar, Laurent Witz, ‘Cogs’ conta a história de um mundo construído em um sistema mecanizado que favorece apenas alguns. Segue dois personagens cujas vidas parecem predeterminadas por este sistema e as circunstâncias em que nasceram. O filme foi feito para o lançamento internacional da AIME, uma organização de caridade em missão para criar um mundo mais justo, criando igualdade no sistema educacional. O curta-animação ‘Cogs’ conta a história de dois meninos que se encontram, literalmente, em faixas separadas e pré-determinadas em suas vidas, e o drama depende do esforço para libertar-se dessas limitações impostas. “Andar sobre trilhos pode ser bom ou mau. Quando uma economia anda sobre trilhos parece que é bom. Quando os seres humanos andam sobre trilhos é mau sinal, é sinal de desumanização, de que a decisão transitou do homem para a engrenagem que construiu. Este cenário distópico assombra a literatura e o cinema ocidentais. Que fazer...

O Livro de hoje: A Velhice, Simone de Beauvoir

VELHICE, A (Simone de Beauvoir) Simone de Beauvoir procurou refletir sobre a exclusão dos idosos em sua sociedade, mas do ponto de vista de que sabia que iria se tornar um deles, como quem pensava o próprio destino. Para ela, um dos problemas da sociedade capitalista está no fato de que cada indivíduo percebe as outras pessoas como meio para a realização de suas necessidades: proteção, riqueza, prazer, dominação. Desta forma, nos relacionamos com outras pessoas priorizando nossos desejos, pouco compreendendo e valorizando suas necessidades. Esse processo aparece com nitidez em nossa relação com os idosos. Em seu livro, a pensadora demonstra que há uma duplicidade nas relações que os mais jovens têm com os idosos, uma vez que, na maioria das vezes, mesmo sendo respeitado por sua condição de pai ou de mãe, trata-se o idoso como uma espécie de ser inferior, tirando dele suas responsabilidades ou encarando-o como culpado por sobrecarga de compromissos que imputa a filhos ou netos....

Saber ouvir 2 - Escutatória Rubem Alves

Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar... Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil. Diz Alberto Caeiro que... Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma. Filosofia é um monte de ideias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia. Parafraseio o Alberto Caeiro: Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma. Daí a dificuldade: A gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor... Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração...   E precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor....