Pular para o conteúdo principal

Postagens

Ser CuidadorA

O cuidado é conjugado no feminino singular Mais de 80% dos cuidadores são mulheres e a maioria é parente da pessoa dependente (filhas ou esposas), segundo dados das pessoas atendidas pela Cruz Vermelha Espanhola. E é que  «o cuidado se conjuga em feminino, singular e privado»  , como afirma Aurora González, chefe do Serviço Multicanal SerCuidadorA . E é isso que, muitas vezes, o trabalho realizado por prestadores de cuidados não profissionais  é invisível,  porque é realizado principalmente no ambiente doméstico privado e é uma atividade não remunerada.  «Outras características do perfil majoritário do cuidador são: eles têm  mais de 50 anos  , compartilham o domicílio com o cuidador , enfrentam seu trabalho diário, falta de emprego remunerado e compartilham esse papel de cuidador com outros papéis familiares e  não ele recebe ajuda de outras pessoas  ",  indica Aurora González. Os principais problemas enfrentados por cuidadores não profissionais são a  falta de treinamento e a fa

A visão da velhice é velha

O mínimo que se pode dizer sobre a nossa visão da velhice é que ela está… velha. Por David Cohen. em 17 mar 2018 E essa vista cansada não desemboca só em dificuldades para quem tem mais idade. Ela leva ao desperdício de uma das maiores oportunidades de negócios dos nossos tempos. O tamanho dessa oportunidade pode ser avaliado em números. O Brasil tem cerca de 26 milhões de pessoas com mais de 60 anos, 50% a mais do que há uma década, de acordo com as estimativas do IBGE. Em 2030, um quinto da população brasileira será idosa – se até lá ainda considerarmos idosas as pessoas com mais de 60 anos. O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial: em 2015, 617 milhões de pessoas tinham mais de 65 anos. Três vezes a população do Brasil. No Japão, mais de uma em cada quatro pessoas está nesta faixa etária. Na Alemanha, Grécia, Itália, Portugal, Suécia, são mais de 20% dos cidadãos. É uma espécie de revolução, para a qual o mundo está despreparado, apesar de ela estar em andamento há década

COVID-19 e instituições de longa permanência para idosos: a tempestade perfeita?

Kenio Costa de Lima, Editor da Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia e professor titular na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, Brasil.  Karla Cristina Giacomin, Ponto focal do International Longevity Center, Belo Horizonte, MG, Brasil. A doutora Karla Giacomin é médica geriatra, com larga experiência em saúde da pessoa idosa, consultora da Organização Mundial de Saúde para políticas de saúde e envelhecimento, ponto focal do International Longevity Center – Brasil e membro pesquisador do Núcleo de Estudos em Saúde Pública e Envelhecimento da Fiocruz Minas. Durante a pandemia da COVID-19, a Dra. Karla coordenou a produção de um e-book “Instituições de Longa Permanência para Idosos e o enfrentamento da pandemia de COVID-19: subsídios para a Comissão de Defesa dos Direitos do Idoso da Câmara Federal”. Este material está servindo de subsídio para gestores públicos e profissionais no cuidado a idosos institucionalizados, em todo o país. Pela sua contribuição nes

Pelo direito de envelhecer: racismo e população negra

Alexandre da Silva é doutor em Saúde Pública e professor da Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ) trabalhando com as temáticas do racismo e envelhecimento. O referido professor é membro do grupo de trabalho Racismo e Saúde e Envelhecimento e Saúde Coletiva da ABRASCO. No editorial “ O envelhecimento na perspectiva do racismo e de outras formas de discriminação: influências dos determinantes institucionais e estruturais para a vida das pessoas idosas ” publicado na Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia (vol. 22, no. 4), autor chama a atenção para as iniquidades raciais presentes na vida das pessoas negras que, muitas vezes, impossibilitam a chegada até os 60 anos de idade, que é um conceito amplamente utilizado para definir uma pessoa como idosa. O texto mostra como injustiças são naturalizadas em nosso país por meio de práticas no campo da política, dos serviços, pelas instituições e, considerando o impacto do racismo, repercutindo na dificuldade da população negra em envelhe

Os impactos da invisibilidade na vida dos idosos LGBTIs

Grace e Frankie ou Robert e Sol? Quem conhece a história de Grace e Frankie, personagens de Jane Fonda e Lily Tomlin na série da Netflix, também conhece o drama de seus respectivos maridos, Robert e Sol, que decidem pedir o divórcio de suas esposas para casar um com o outro. Num exemplo clássico da “vida imitando a arte”, entender o porquê de eles terem demorado tanto tempo para “sair do armário” pode ajudar a compreender a atual geração de idosos LGBT. Assumindo então que Robert e Sol teriam 80 anos hoje, em 1973 eles tinham 34 anos, quando a Associação Americana de Psiquiatria deixou de considerar a homossexualidade como doença. Além disso, aos 40 anos começaram a ouvir sobre a aids e aos 50 anos muitos de seus amigos começaram a morrer por essa doença. Para esses dois, e para muitos de seus contemporâneos LGBT, a invisibilidade foi uma maneira encontrada para fugir da discriminação, e, em alguns casos, para sobreviver. Porém, permanecer invisível na terceira idade pode ter consequên

Contra a ditadura do bem-estar

Resiliência, ‘mindfulness’, ‘wellness’ são palavras às quais estamos cada vez mais expostos nos últimos ano. Vários autores, porém, criticam a culpabilização do indivíduo que não se sente feliz. Resiliência,  mindfulness ,  wellness  e cura são palavras às quais estamos cada vez mais expostos nos últimos anos. Sua presença parece nos dizer que adquirir um bom tônus muscular não basta e que hoje a missão imperiosa é  alcançar um nível aceitável de felicidade . A pergunta óbvia que surge é saber se esse estado de plenitude é mensurável e, em caso afirmativo, para quais fins seriam usados os dados obtidos? Esta é precisamente a preocupação central do ensaio  T he Hapiness Industry   ( A Indústria da Felicidade ). Seu autor, o acadêmico britânico William Davies, revê a história do interesse em medir a intensidade do bem-estar psicofísico a partir do espanto que causou verificar que a ciência comportamental e a neurociência se apresentavam como uma explicação plausível da crise financeira g

Um preconceito sem nome

Se você acha complicado ser negro, mulher ou gay, experimente ser velho(a). A ideia não é fazer um concurso e dar um troféu a quem sofrer mais, mas é preciso coragem e atitude para exibir rugas e demais sinais de uma vida iniciada há mais de seis década. Desrespeito, deboche e impaciência são constantes no cotidiano dos idosos. O mundo, especialmente o virtual, pode ser bem hostil. Quem frequenta as redes sociais sabe da enxurrada de insultos a pessoas de idade que se atrevem a expressar suas opiniões. Há sempre alguém desqualificando-as sob a acusação de senilidade. É comum que ilustres anônimos se sintam autorizados a chamar de senil, esclerosado, caduco pessoas com vasta folha de serviços prestados à sociedade. A experiência e competência, acumuladas ao longo de anos de trabalho e estudo, são depreciadas por quem considera sua juventude o único requisito para chancelar ideias. É impressionante a falta de cerimônia com que muitos mandam se calar pessoas que deveriam ser escutadas. A