Pular para o conteúdo principal

Cresce a presença de mulheres chefes de família entre os idosos no Brasil

Estudo sobre mulheres chefes de família entre a população idosa no Brasil indica que o grande crescimento da chefia feminina entre 2001 e 2015 não se deve apenas aos fatores clássicos de empoderamento feminino – como a educação e o emprego – mas também aos indicadores de maior envolvimento com as responsabilidades domésticas.

O Brasil passou por uma mudança significativa na relação de poder no seio das famílias nos primeiros 15 anos do século XXI. Enquanto o total de famílias brasileiras aumentou 39% em 15 anos, passando de 51,5 milhões em 2001 para 71,3 milhões em 2015, as famílias chefiadas por mulheres dobrou em termos absolutos, subindo de 14,1 milhões em 2001 para 28,9 milhões em 2015, um aumento relativo de 105%. Em termos percentuais, as famílias chefiadas por homens diminuiu de 72,6% em 2001 para 59.5% em 2015, enquanto o percentual de famílias chefiadas por mulheres subiu de 27,4% para 40,5%, no mesmo período.

Mas este aumento não foi uniforme entre os diversos grupos etários. A distribuição por idade das mulheres chefes de família tem a forma de um “U”, ou seja, as percentagens são mais altas nos extremos das idades e mais baixas no meio, como pode ser observado no gráfico abaixo. Em 2001, este formato era mais acentuado e a percentagem de chefias femininas era mais elevada entre as adolescentes e as idosas. Em 2015, houve um aumento nos grupos etários intermediários, diminuindo bastante a envergadura da forma em “U”.

No grupo etário de 15 a 19 anos o percentual de mulheres chefiando as famílias era de 55,6% em 2001 e passou para 57,6% em 2015. Isto acontece porque muitas dessas mulheres são adolescentes com filhos que não possuem cônjuge e moram com os pais, fruto das altas taxas de fecundidade na adolescência, que apesar da diminuição na última década, apresenta um nível elevado e incompatível com a baixa taxa de fecundidade total. Nos grupos etários entre 25 e 59 anos a percentagem fica abaixo de 40%.


Entre as idosas (60 anos e mais), ao longo do curso de vida, o percentual de mulheres chefes de família volta a ficar acima da média para o conjunto das idades. Isto ocorre porque cresce novamente o percentual de famílias monoparentais femininas em decorrência de separações ou viuvez e o percentual de mulheres vivendo sozinhas. O fato é que, depois de adultas, a chefia feminina cresce com a idade e, entre os idosos brasileiros, há quase paridade (50%/50%) entre as chefias entre homens e mulheres.

A tabela abaixo mostra que o percentual de mulheres chefes de família na população como um todo, em 2001, era de 27,4% e entre a população idosa era de 37,8%. Em 2015, estes percentuais subiram para 40,5% e 45,5%. Devido ao processo de envelhecimento populacional, o percentual de chefias idosas aumentou entre 2001 e 2015, com os homens idosos chefes passando de 16,9% para 24,2% e as mulheres chefes idosas passando de 27,2% para 29,6%.



Em 2001, havia 6,3 milhões de homens idosos chefes de família, número que passou para 10,3 milhões em 2015, um aumento de 62,7% em 15 anos. Já as chefias femininas entre os idosos passou de 3,8 milhões em 2001 para 8,6 milhões em 2015, um aumento de 123,6%.

O perfil dos chefes de família, por sexo, foi descrito no livro “Mulheres Chefes de Família no Brasil: Avanços e Desafios”, dos autores Suzana Cavenaghi e José Eustáquio Alves e publicado pela Escola Nacional de Seguros, no Dia Internacional da Mulher, 08 de março de 2018. O estudo (que pode ser acesso livremente), indicou que o grande crescimento da chefia feminina entre 2001 e 2015 não se deve apenas aos fatores clássicos de empoderamento feminino – como a educação e o emprego – mas também aos indicadores de maior envolvimento com as responsabilidades domésticas.

Indubitavelmente, o Brasil passa por um reordenamento da estrutura de poder no seio das famílias. Quer seja por oportunidades, fatalidades ou conveniências diversas, há uma tendência para uma maior equidade entre homens e mulheres nos arranjos familiares no país. E o interessante é que a maior equidade de gênero ocorre com mais força entre a população idosa.

Download aqui

Referência: CAVENAGHI, S., ALVES, JED. Mulheres Chefes de Família no Brasil: Avanços e Desafios, Rio de Janeiro, ENS-CPES, 2018. http://www.funenseg.org.br/arquivos/mulheres-chefes-de-familia-no-brasil-estudo-sobre-seguro-edicao-32_1.pdf

Imagem de destaque: Agência Brasil

Por: José Eustáquio Diniz Alves - Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

Em, 15/03/2018  Fonte: www.portaldoenvelhecimento.com.br/

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Dente-de-Leão e o Viva a Velhice

  A belíssima lenda do  dente-de leão e seus significados Segundo uma lenda irlandesa, o dente-de-leão é a morada das fadas, uma vez que elas eram livres para se movimentarem nos prados. Quando a Terra era habitada por gnomos, elfos e fadas, essas criaturas viviam livremente na natureza. A chegada do homem os forçou a se refugiar na floresta. Mas   as fadas   tinham roupas muito chamativas para conseguirem se camuflar em seus arredores. Por esta razão, elas foram forçadas a se tornarem dentes-de-leão. Comentário do Blog: A beleza  do dente-de-leão está na sua simplicidade. No convívio perene com a natureza, no quase mistério sutil e mágico da sua multiplicação. Por isso e por muito mais  é que elegi o dente-de-leão  como símbolo ou marca do Viva a Velhice. Imagem  Ervanária Palmeira   O dente-de-leão é uma planta perene, típica dos climas temperados, que espontaneamente cresce praticamente em todo o lugar: na beira de estrada, à beira de campos de cultivo, prados, planícies, colinas e

‘Quem anda no trilho é trem de ferro, sou água que corre entre pedras’ – Manoel de Barros

  Dirigido pelo cineasta vencedor do Oscar, Laurent Witz, ‘Cogs’ conta a história de um mundo construído em um sistema mecanizado que favorece apenas alguns. Segue dois personagens cujas vidas parecem predeterminadas por este sistema e as circunstâncias em que nasceram. O filme foi feito para o lançamento internacional da AIME, uma organização de caridade em missão para criar um mundo mais justo, criando igualdade no sistema educacional. O curta-animação ‘Cogs’ conta a história de dois meninos que se encontram, literalmente, em faixas separadas e pré-determinadas em suas vidas, e o drama depende do esforço para libertar-se dessas limitações impostas. “Andar sobre trilhos pode ser bom ou mau. Quando uma economia anda sobre trilhos parece que é bom. Quando os seres humanos andam sobre trilhos é mau sinal, é sinal de desumanização, de que a decisão transitou do homem para a engrenagem que construiu. Este cenário distópico assombra a literatura e o cinema ocidentais. Que fazer?  A resp

Poesia

De Mario Quintana.... mulheres. Aos 3 anos: Ela olha pra si mesma e vê uma rainha. Aos 8 anos: Ela olha para si e vê Cinderela.   Aos 15 anos: Ela olha e vê uma freira horrorosa.   Aos 20 anos: Ela olha e se vê muito gorda, muito magra, muito alta, muito baixa, muito liso, muito encaracolado, decide sair mas, vai sofrendo.   Aos 30 anos: Ela olha pra si mesma e vê muito gorda, muito magra, muito alta, muitobaixa, muito liso muito encaracolado, mas decide que agora não tem tempo pra consertar então vai sair assim mesmo.   Aos 40 anos: Ela se olha e se vê muito gorda, muito magra, muito alta, muito baixa, muito liso, muito encaracolado, mas diz: pelo menos eu sou uma boa pessoa e sai mesmo assim.   Aos 50 anos: Ela olha pra si mesma e se vê como é. Sai e vai pra onde ela bem entender.   Aos 60 anos: Ela se olha e lembra de todas as pessoas que não podem mais se olhar no espelho. Sai de casa e conquista o mundo.   Aos 70 anos: Ela olha para si e vê sabedoria, ri

Saber ouvir 2 - Escutatória Rubem Alves

Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar... Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil. Diz Alberto Caeiro que... Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma. Filosofia é um monte de ideias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia. Parafraseio o Alberto Caeiro: Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma. Daí a dificuldade: A gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor... Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração...   E precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor. N

O Envelhescente por Mário Prata

Se você tem entre 50 e 70 anos, preste bastante atenção no que se segue.  Se você for mais novo, preste também, porque um dia vai chegar lá. E, se já passou, confira. Sempre me disseram que a vida do homem se dividia em quatro partes: infância, adolescência, maturidade e velhice. Quase correto. Esqueceram de nos dizer que entre a maturidade e a velhice (entre os 50 e os 70), existe a ENVELHESCÊNCIA. A envelhescência nada mais é que uma preparação para entrar na velhice, assim com a adolescência é uma preparação para a maturidade . Engana-se quem acha que o homem maduro fica velho de repente, assim da noite para o dia. Não. Antes, a envelhescência. E, se você está em plena envelhescência, já notou como ela é parecida com a adolescência? Coloque os óculos e veja como este nosso estágio é maravilhoso: — Já notou que andam nascendo algumas espinhas em você? — Assim como os adolescentes, os envelhescentes também gostam de meninas de vinte anos. — Os adolescentes mudam a voz. Nós, envelhesce