Pular para o conteúdo principal

Em defesa da vida e da vacinação infantil ou Quando começamos a envelhecer

Retrocesso na imunização contra Covid e pólio é violação grave de direitos

Nísia Trindade Lima - Presidente da Fiocruz e avó de Bento 6 anos, 

Muitas vezes venho a público me posicionar como presidente da Fiocruz, mas hoje é minha sensibilidade como avó de Bento, um esperto e querido menino de 6 anos de idade, que me motiva a escrever.

Sou de uma geração que constatou o grande êxito dos programas de vacinação. Lembro dos colegas de turma vitimados pela poliomielite, com sequelas motoras irreversíveis, mas também de ter sido vacinada contra a pólio em 1963, na Escola Imaculada Conceição, no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro. Na mesma época constatei o terrível impacto do sarampo, quando a imunização ainda não estava disponível.

Adolescente, participei, entre outras campanhas, daquela que permitiu a erradicação da varíola em todo o planeta. Por isso, a afirmativa da Organização Mundial da Saúde —vacinas e água potável são os maiores avanços civilizatórios e bens de saúde pública— não soa para mim como retórica. Senti seus efeitos em minha experiência de vida, e essa memória reforça a compreensão do problema do retrocesso na vacinação em todo o mundo e em nosso país em particular.

Quase 50 anos após a criação no Brasil do bem-sucedido Programa Nacional de Imunizações pelo Ministério da Saúde, assisto com grande preocupação à perda acentuada das coberturas vacinais e à baixa vacinação contra a Covid-19 entre nossas crianças. É concreto o risco de retorno da poliomielite, como infelizmente já ocorreu com o sarampo, que precisa voltar a ser eliminado.

A proteção contra doenças preveníveis por vacinas é uma grande conquista da ciência e da sociedade e, no caso da infância, um direito assegurado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

O atraso na vacinação infantil contra a Covid-19 é preocupante, uma vez que, até junho de 2022, o Brasil registrava uma média de duas mortes diárias pela doença entre crianças menores de 5 anos. É grave que tenhamos alcançado uma cobertura de apenas 35,6% de vacinação (com duas doses) na faixa de 5 a 11 anos. Da mesma forma, é fundamental a vacinação das crianças de 6 meses a 5 anos, independentemente da presença de comorbidades.

Em relação a outras enfermidades, constatamos 616 óbitos por doenças imunopreveníveis entre crianças de 5 a 11 anos em 2021. Por essa razão, na Fiocruz, a partir da iniciativa do nosso Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), lançamos o programa Reconquista das Altas Coberturas Vacinais, que se soma a outras importantes ações, como o Vacina Mais, promovido por Conass, Conasems e Opas, entre outros.


Entretanto, é a tentativa de sensibilizar os pais que ainda não vacinaram ou não atualizaram a vacinação de suas crianças a principal motivação deste artigo. Penso em outras avós de todas as regiões do país, com as mais diferentes ocupações e classes sociais, muitas vezes assumindo a responsabilidade pelo cuidado dos filhos de seus filhos e filhas.

Em muitos casos, até mesmo pela vitória das gerações anteriores, levando a que as doenças imunopreveníveis pareçam ameaças do passado, há resistências em nossas famílias à vacinação, mas não podemos assistir de forma passiva à violação dos direitos de nossos netos. É fundamental assegurar a imunização a todas as crianças.

Vacinas salvam vidas e o futuro de nosso país!

Fonte:https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2022/11/em-defesa-da-vida-e-da-vacinacao-infantil.shtml  

Sugestão do Blog: Siga o link e veja as fotos, são importantes complemento do artigo.          

 

2.           

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Dente-de-Leão e o Viva a Velhice

  A belíssima lenda do  dente-de leão e seus significados Segundo uma lenda irlandesa, o dente-de-leão é a morada das fadas, uma vez que elas eram livres para se movimentarem nos prados. Quando a Terra era habitada por gnomos, elfos e fadas, essas criaturas viviam livremente na natureza. A chegada do homem os forçou a se refugiar na floresta. Mas   as fadas   tinham roupas muito chamativas para conseguirem se camuflar em seus arredores. Por esta razão, elas foram forçadas a se tornarem dentes-de-leão. Comentário do Blog: A beleza  do dente-de-leão está na sua simplicidade. No convívio perene com a natureza, no quase mistério sutil e mágico da sua multiplicação. Por isso e por muito mais  é que elegi o dente-de-leão  como símbolo ou marca do Viva a Velhice. Imagem  Ervanária Palmeira   O dente-de-leão é uma planta perene, típica dos climas temperados, que espontaneamente cresce praticamente em todo o lugar: na beira de estrada, à beira de campos de cultivo, prados, planícies, colinas e

‘Quem anda no trilho é trem de ferro, sou água que corre entre pedras’ – Manoel de Barros

  Dirigido pelo cineasta vencedor do Oscar, Laurent Witz, ‘Cogs’ conta a história de um mundo construído em um sistema mecanizado que favorece apenas alguns. Segue dois personagens cujas vidas parecem predeterminadas por este sistema e as circunstâncias em que nasceram. O filme foi feito para o lançamento internacional da AIME, uma organização de caridade em missão para criar um mundo mais justo, criando igualdade no sistema educacional. O curta-animação ‘Cogs’ conta a história de dois meninos que se encontram, literalmente, em faixas separadas e pré-determinadas em suas vidas, e o drama depende do esforço para libertar-se dessas limitações impostas. “Andar sobre trilhos pode ser bom ou mau. Quando uma economia anda sobre trilhos parece que é bom. Quando os seres humanos andam sobre trilhos é mau sinal, é sinal de desumanização, de que a decisão transitou do homem para a engrenagem que construiu. Este cenário distópico assombra a literatura e o cinema ocidentais. Que fazer?  A resp

Poesia

De Mario Quintana.... mulheres. Aos 3 anos: Ela olha pra si mesma e vê uma rainha. Aos 8 anos: Ela olha para si e vê Cinderela.   Aos 15 anos: Ela olha e vê uma freira horrorosa.   Aos 20 anos: Ela olha e se vê muito gorda, muito magra, muito alta, muito baixa, muito liso, muito encaracolado, decide sair mas, vai sofrendo.   Aos 30 anos: Ela olha pra si mesma e vê muito gorda, muito magra, muito alta, muitobaixa, muito liso muito encaracolado, mas decide que agora não tem tempo pra consertar então vai sair assim mesmo.   Aos 40 anos: Ela se olha e se vê muito gorda, muito magra, muito alta, muito baixa, muito liso, muito encaracolado, mas diz: pelo menos eu sou uma boa pessoa e sai mesmo assim.   Aos 50 anos: Ela olha pra si mesma e se vê como é. Sai e vai pra onde ela bem entender.   Aos 60 anos: Ela se olha e lembra de todas as pessoas que não podem mais se olhar no espelho. Sai de casa e conquista o mundo.   Aos 70 anos: Ela olha para si e vê sabedoria, ri

Saber ouvir 2 - Escutatória Rubem Alves

Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar... Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil. Diz Alberto Caeiro que... Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma. Filosofia é um monte de ideias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia. Parafraseio o Alberto Caeiro: Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma. Daí a dificuldade: A gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor... Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração...   E precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor. N

O Envelhescente por Mário Prata

Se você tem entre 50 e 70 anos, preste bastante atenção no que se segue.  Se você for mais novo, preste também, porque um dia vai chegar lá. E, se já passou, confira. Sempre me disseram que a vida do homem se dividia em quatro partes: infância, adolescência, maturidade e velhice. Quase correto. Esqueceram de nos dizer que entre a maturidade e a velhice (entre os 50 e os 70), existe a ENVELHESCÊNCIA. A envelhescência nada mais é que uma preparação para entrar na velhice, assim com a adolescência é uma preparação para a maturidade . Engana-se quem acha que o homem maduro fica velho de repente, assim da noite para o dia. Não. Antes, a envelhescência. E, se você está em plena envelhescência, já notou como ela é parecida com a adolescência? Coloque os óculos e veja como este nosso estágio é maravilhoso: — Já notou que andam nascendo algumas espinhas em você? — Assim como os adolescentes, os envelhescentes também gostam de meninas de vinte anos. — Os adolescentes mudam a voz. Nós, envelhesce