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A Pandemia e os Idosos

 O vírus da idade ou como a força mental não está em desacordo com a força física. Os idosos passaram por grandes mudanças em sua rotina devido ao confinamento. Um estudo atesta como pessoas com maiores recursos pessoais conseguiram lidar melhor com a situação, além de ressaltar a importância de saber conviver com a solidão.

PoR WILLIAM MARTINEZ @Guille8Martinez 

“Esse vírus etário contaminou a sociedade com o preconceito.” É assim que se manifesta Javier Yanguas, doutor em psicologia e diretor científico do Programa Sênior da Fundación La Caixa, quando é questionado sobre o impacto do coronavírus nos idosos. Esse setor da população viu como seus pares vêm morrendo devido ao coronavírus sem prestar atenção às suas peculiaridades. "Todos os idosos foram considerados como se tivessem o mesmo risco, quando precisamente a sua principal característica é a diversidade, onde há pessoas com 65 e 95 anos, pais e filhos, uma geração. É injusto tratá-los da mesma forma", conclui o médico.

O fato de os idosos terem maior probabilidade de perder a vida devido à covid-19 é uma realidade. Que pessoas mais vulneráveis ​​fisicamente podem ser psicologicamente mais fortes do que outras também. "Toda a história da velhice se concentrou em fazer atividades, e agora que elas não foram realizadas, foi revelado que aqueles que lidaram melhor com a situação foram aqueles que tinham mais recursos pessoais na ponta dos dedos, aqueles que comprometidos com seu povo, com confiança no futuro; em suma, aqueles que melhor autogeriram seus medos", explica Yanguas.

O próprio profissional dá a chave da situação: “Ainda temos que focar menos no fazer e mais no ser, no crescimento pessoal, saber lidar com a solidão, empoderando-os”. Paloma Alcubilla, jornalista aposentada de 72 anos, confirma essa tese. Do seu ponto de vista, as redes de apoio são o que os salvou, porque “escrever com as pessoas é muito importante na hora de comunicar suas experiências”, explica. “Vi que os mais velhos têm que aprender uma coisa, que é que temos que trabalhar pelo nosso futuro porque vamos ver como as pessoas da nossa geração caem constantemente”, disse esta madrilena ao Público .

Ela, que aprendeu inglês décadas atrás lendo os livros de Hercule Poirot, define a solidão como "não ter interesse em nada do que está ao redor", e esclarece: "Uma pessoa sozinha não precisa sentir a solidão como algo negativo, desde certos incentivos para aceitar o que você tem na vida e buscar o que deseja. Alcubilla, que trabalhou na RTVE, considera que os idosos têm muito a contribuir para a sociedade: "Já nos demos todos os acolhimentos que os mais novos ainda não deram. bem, sempre sendo revisionistas e sabendo que a sociedade muda a cada dia".

Rosa Vilalta passou, e passa, o confinamento sozinha, mesmo tendo sofrido sintomas ligeiros de covid-19. Aos 76 anos e separada há quatro décadas, ela lembra uma das peculiaridades que esse período deixou: "Recuperamos uma coisa muito importante, como a voz, o telefone com voz. Você ligou para sua família, seus amigos e ninguém estava com pressa, as conversas duravam pelo menos meia hora. Isso foi muito bom, mas agora que você pode sair mais e parece que você pode ver o horizonte, não há mais necessidade de se comunicar " ela diz.

A pandemia não é uma guerra

Os mais velhos, se não viveram a Guerra Civil, tiveram que crescer no pós-guerra, o que lhes infunde uma auréola de conhecimento ao tratar da questão da pandemia como evento bélico. "A guerra é caótica, você passa fome, é terror. Aqui temos uma geladeira cheia e quem tem uma casa mais ou menos decente conseguiu ficar em casa com uma infinidade de confortos, então isso nunca foi uma guerra, não importa o quanto eles gostariam de e a realidade dessa forma ", argumenta esse ex-professor do ensino médio.

"Deixando tudo isso de lado, como vai, Rosa?", pergunta o jornalista alguns minutos depois de iniciar a conversa telefônica. "Estou bem, nunca fico entediada, sempre leio, tricoto, cozinho, converso, assisto a filmes, e sempre que podia saía para caminhar cinco ou seis quilômetros montanha acima, que fica bem aqui ao lado. mas também fico triste porque vejo que o ambiente social está à deriva. Não consigo ficar totalmente otimista quando vejo a atitude dos políticos. Não merecemos esses representantes, o povo tem mais bom senso", responde o catalão.

Vilalta também reflete sobre a solidão: "É muito importante saber ficar sozinho. Eu, que tive que me divorciar, fiz um pacto com a solidão, e no final eu gosto. As pessoas têm que aprender que nosso bem-estar o ser não depende de ninguém e que os laços afetivos servem para nos complementar, mas sem depender deles".

Medo e ansiedade

Alguns dados fornecidos pelo Yanguas sugerem que, apesar da força mental dos idosos, eles também sofreram algum dano psicológico. Segundo a psicóloga, quatro em cada dez idosos entrevistados reconhecem ter tido pensamentos negativos, número que se repete naqueles que afirmam ter passado por um momento emocional ruim. Questionados se sua vida foi alterada, três em cada dez responderam que sim. O percentual sobe para 50% para aqueles idosos que afirmam ter vivenciado algo ou estar com muito medo. “Teríamos que pensar se esse medo é condicionado pelo foco do vírus na idade, em um grupo tão grande e diversificado, em vez de individualizá-lo em pessoas com patologias anteriores”, diz o diretor do estudo realizado pela Fundação La Caixa.

"Se antes a vida já era complicada, agora com o que caiu em cima, vai ser pior"

“Não senti medo nem medo, mas sim responsabilidade sabendo que se não seguisse as recomendações de saúde poderia me infectar ou infectar outras pessoas”, diz Margarita Moreno. Do ponto de vista deste vizinho de Valência, as pessoas têm tido mais ansiedade do que medo face à pandemia. "A incerteza de não saber se amanhã eu ia tocar em você era a pior", acrescenta.

"Tudo serve para crescer"

Sofrendo de uma deficiência visual de 90%, sua férrea rotina tornou mais suportáveis ​​esses quase três meses em que ela teve que viver trancada. "Levanto às sete e meia, limpo, cozinho, faço compras, faço tudo. Meu marido me ajuda, mas não quero depender de ninguém. Até perder a visão. Continuo fazendo o que quero. “Às vezes, tenho que limpar o vidro três vezes porque a primeira e a segunda não deram certo, então faço isso", diz Moreno.

Analisando a realidade dos idosos, este aposentado de 69 anos garante que os idosos vivem com muita carga de compromissos, "e ainda mais agora que têm que sustentar seus filhos, netos ou ajudá-los financeiramente". Mas também pensa no futuro: "Se a vida já era complicada antes, agora com o que caiu sobre ela, vai ser pior", acrescenta. Voltando à primeira pessoa e antes de desligar o telefone, Moreno não esquece de dizer qual é o seu lema de vida: "Ajudar o máximo que puder dentro das minhas possibilidades e tentar ser feliz". Uma mensagem que coincide com a despedida de Vilalta, de Barcelona, ​​tão universal quanto empoderadora: “Tudo serve para crescer”.

Em 13/06/2020 Fonte: https://www.publico.es/sociedad/coronavirus-virus-edadismo-fortaleza-mental-no-renida-fisica.html

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